Pi era um rapaz como os outros. Mas a sua vida dispunha de uma particularidade, desconhecida a muitos dos outros moços. O corpo de Pi gerava um campo de forças que repelia os outros seres humanos até uma distância máxima de 3,14 metros.
Pi tinha tido uma infância relativamente normal (sendo que o desenvolvimento deste fenómeno se deu a partir dos seus dez anos), tendo feito amizades com os colegas de escola e tendo sido acarinhado pelos pais e pela família.
No seu décimo aniversário, no entanto, e assim que soprou as velas, as pessoas à sua volta foram instantaneamente varridas para uma distância de x metros (que depois, através de medições, se veio a descobrir que correspondia à constante matemática de pi). E a partir desse momento, a sua vida sofreu uma alteração dramática.
Pi já não tinha hipótese de fazer travessuras aos amigos, como colar papéis com frases ridículas nas suas costas. Nem abraçar a sua mãe ou apertar a mão ao pai, podia.
Quando atingiu os 14 anos de idade, a situação piorou. Tinha desenvolvido uma paixoneta por uma rapariga da sua turma e ela parecia corresponder. Ele passava por ela e havia sempre um momento em que ambos se entreolhavam e trocavam acenos e piadas, afectuosamente. Uma vez, ela tento quebrar o invisível (ah e maldito) campo magnético, para lhe dar um beijo mas sem sucesso.
E passaram vários anos, assim, trocando amor a uma distância de segurança. O rapaz desesperava e a moça já procurava alento noutros braços. Mas continuavam naquele jogo de sedução, ainda que em vão.
Pi chegou aos 23 anos e depois de tantas punhetas batidas com desejo amoroso, matou-se com um tiro na mona à la Kurt Cobain. Os especialistas forenses averiguaram que a arma foi usada pela mão esquerda (através da análise do padrão de sangue na cena do crime).