Os nossos corpos flutuando na ribeira, clara e água gelando. Os meus lábios, pétala desfeita em lilás. As tuas pálpebras, húmidas e cerradas.
O meu vestido branco colado ao corpo, de tal forma, que se notava a pele arrepiada.
A tua camisa completamente desabotoada, negra, qual sombra perseguindo a tua figura.
Acompanhando o esguio percurso de água, pinheiros, eucaliptos, arbustos, flores selvagens.
Os nossos ciclos de respiração sincronizaram-se e inspirámos fundo. O ar era puro, já não conhecíamos esta frescura há algum tempo.
Eu afundei-me propositadamente. Enrijeci os músculos, expirei e a água engoliu-me num segundo. As bolhas de ar lutavam entre si para atingir à superfície.
A profundidade era de metro e meio, naquela área. Acordaste do teu transe profundo e colocaste os pés sobre o fundo preenchido de rochas. Procuraste-me.
Eu estava na margem. Admirando-te. A minha pele tinha perdido a cor. O meu coração começara a bombear sangue, desesperado. Não me recordo se estava a tremer. Admirava-te.
O teu olhar cruzou-se com o meu. Senti uma pontada de calor na face. O meu sistema nervoso despertara. Os meus músculos derreteram e o meu corpo sucumbiu aos espasmos.
Ao te aproximares, senti um choque. Os nossos corações batiam com a mesma frequência, os nossos pulmões expulsavam ar freneticamente, os nossos corpos cediam à fraqueza.
Ao nosso redor, a brisa fazia dançar os ramos dos pinheiros, dos eucaliptos, dos arbustos. E as flores selvagens balançavam. E nós…
Nós perdemo-nos na pele um do outro.